Cidade do Cabo

A História do mundo faz-se de muitos episódios e capítulos, e alguns locais, mais do que outros, acabam por ficar inscritos para sempre na memória de todos. A Cidade do Cabo é, por diversas razões, um desses locais.

Com uma localização geográfica extraordinária, a Cidade do Cabo é uma das três capitais da África do Sul, neste caso, a legislativa, sendo aqui que se encontra o Parlamento e grande parte do governo.

Situada junto ao Atlântico, tem um porto internacionalmente conhecido, e está protegida do vento pela Table Mountain, o que lhe proporciona um clima bastante ameno e convidativo, ainda que o inverno seja frio.

Mas é a história - e pela história – o motivo por que melhor se conhece a Cidade do Cabo. E o seu nome é, desde logo, um indicador disso mesmo, sobretudo, para muitos portugueses.

Afinal, este ‘Cabo’ é, nada mais, nada menos, do que o Cabo da Boa Esperança, e o ponto a partir do qual, tendo sido dobrado, por mar, possibilitou uma nova rota que culminou com a descoberta do caminho marítimo para o oriente. Bartolomeu Dias foi, assim, o herói que, em 1488, realizou essa proeza que permitiu que, em 1497, Vasco da Gama chegasse à Índia.

À luz dos dias de hoje fazer esse ‘virar de esquina’ parece simples. Mas não era. Os ventos e marés dificultavam a tarefa, e de tal forma, que Camões lhe dedicou um Canto, o V, n’Os Lusíadas, personificado pelo gigante Adamastor.

Mais tarde, já no século XVII, em 1652, foi ocupada pelos neerlandeses, como estação de abastecimento dos seus navios. Esta movimentação levou ao desenvolvimento da cidade, a mais antiga da África do Sul, o que lhe valeu o epíteto de Cidade-Mãe. Esta presença e influência neerlandesas sentem-se até aos dias de hoje, incluindo no Afrikaans, uma das 11 línguas faladas no país, que é uma mistura das várias presenças no território.

No século XVIII, os franceses ainda tentaram ocupar e ficar com a cidade, mas só no século XIX, é que a Cidade do Cabo mudou de mãos, tendo passado para o domínio do Reino Unido. E porque, como já se sabe, onde há riqueza, há problemas, a descoberta de diamantes na região levou a muitos interesses e disputas, que se foram arrastando até que, nas eleições de 1948, um novo regime foi instaurado: o Apartheid.

Este regime de segregação racial determinava, não só a separação do território, dividido por zonas ou áreas distintas da cidade, como também a existência de leis e direitos diferentes para brancos e para negros. E foi nesse ambiente assimétrico que se viveu na Cidade do Cabo até à década de 90 do século XX, quando Nelson Mandela, tendo sido, mais tarde, eleito Presidente da África do Sul, discursou.

Este resumo acelerado e simplista da história da Cidade do Cabo que aqui apresentamos tem um propósito: mostrar a origem de muitos dos seus pontos de interesse, e a razão do ambiente inesperadamente cosmopolita, que se sente em praticamente todas as áreas da cidade.

Comecemos, então, pelo bairro de Victoria & Albert Waterfront, a zona portuária da cidade onde hoje se encontram, para além de uma fantástica marina, diversos restaurantes, lojas, shoppings, mercados e espaços onde não falta diversão, incluindo uma roda gigante e passeios de barco pelo mar e pelos canais e, até, passeios de helicóptero!

É uma parte da cidade onde as influências europeias estão bem presentes, quer pelo estilo da arquitetura, quer mesmo pela paisagem, que faz lembrar cidades portuárias do norte da Europa. Mas, ao mesmo tempo, aqui sente-se a cultura e a personalidade do povo sul-africano, mais caloroso e afável. Se lhe apetece explorar a gastronomia local, relaxar ou fazer compras, está no sítio certo!

Daqui pode escolher para onde ir: de um lado, o encontro está marcado com a história do país, com uma incontornável visita à Robben Island. Do outro, tem a inconfundível Table Mountain, que lhe proporciona vistas magníficas sobre a cidade, para além de um encontro único com a natureza.

Para o ajudar a escolher, levantamos o véu a cada um destes passeios, mas o melhor será ir a ambos e tirar as suas conclusões. Não se vai arrepender!

Situada em frente à Cidade do Cabo a ilha de Robben é, hoje, Património Mundial da UNESCO, e a sua história é surpreendente. Ao longo dos tempos foi sendo usada para diferentes fins – colónia de leprosos, hospital psiquiátrico, base de treino militar – mas ficou conhecida por, durante o regime de Apartheid, ser prisão de presos políticos, e o local onde, durante 18 anos, Nelson Mandela esteve preso.

Visitar a sua cela e conhecer a história ‘do triunfo do espírito humano’, como descreveu a UNESCO, pela voz de algumas das pessoas que lá estiveram detidas, é um momento inesquecivelmente comovente e enriquecedor. Se tiver oportunidade, não perca!

Aliás, a propósito deste tema, antes de seguirmos caminho, fazemos um desvio e voltamos à Cidade do Cabo, para recomendar a visita ao District Six ou Distrito Seis, e ao Museu do Apartheid, que existe desde 1994.

A sua história é impressionante. Neste bairro multicultural viviam, desde 1867, muitas famílias de imigrantes e ex-escravos de diferentes raças e origens. O bairro era vibrante e colorido, cheio de animação e diversidade. Contudo, com a instauração do Apartheid tudo mudou. O governo decidiu que esta área deveria ser exclusiva para pessoas brancas, obrigando os não-brancos a deixar as suas casas e a mudarem-se para a periferia da cidade. Só em 1967 foram expulsos mais de 60 mil moradores!

O District Six tornou-se, então, uma zona sem brilho e sinónimo de humilhação até 1994, altura em que se tornou num espaço de aprendizagem e de orgulho sobre a sua origem e a vida dos seus moradores; e um lugar que mantém presente a memória dos caminhos que não mais devem voltar a ser percorridos.

Fechando parêntesis e voltando ao roteiro, depois da Robben Island e do District Six, poderá seguir noutra direção, rumo à Table Mountain. O passeio é, igualmente, arrebatador, ainda que por diferentes motivos. Visível de quase todas as zonas da Cidade do Cabo, esta peculiar montanha é, na verdade, um planalto, o que a torna muito original. Se gosta de natureza, vai adorar!

E pode chegar até lá de duas formas. Se tem boas pernas para andar, pode subir a pé, mas avisamos que dá luta! Não tanto pelo grau de dificuldade, mas pela distância, que ainda é alguma. Se prefere guardar os sapatos para os passeios no topo, suba de teleférico. É rápido e proporciona uma belíssima vista sobre a cidade.

Lá em cima há muito para ver e diversos trilhos para andar e tem, até, um restaurante para o caso das vistas lhe abrirem o apetite. Talvez tenha sido por isso que, em 1503, o explorador português António Saldanha, que foi o primeiro a subir ao topo desta montanha, lhe tenha dado este nome...

Ora este ícone da Cidade do Cabo faz parte de um parque natural cuja biodiversidade de fauna e flora locais está protegida, em particular o fynbos – um bioma de vegetação arbustiva rara e específica desta zona. E exatamente por ser um parque ou uma reserva, neste território encontra alguns locais muito especiais: a Boulders Beach, uma praia que é a casa de uma das poucas colónias de pinguins africanos - uma espécie em vias de extinção; o épico Cabo da Boa Esperança, que vale a pena conhecer e que é a cerca de meia hora de caminho; ou o Jardim Botânico de Kirstenbosch, um dos jardins mais bonitos do mundo.

Muito verde e bonito, aqui, pode ficar a saber tudo sobre a fauna e flora locais, caminhar em pontes e passadiços que parecem suspensos, visitar jardins temáticos como o das aromáticas ou das plantas medicinais, ou simplesmente deixar-se envolver pela beleza e tranquilidade do lugar, sentando-se à beira de um lago ou debaixo de uma enorme árvore, a contemplar.

Se gosta de belas paisagens, valerá ainda a pena, percorrer de carro uma das mais belas estradas do mundo, a Chapman’s Peak Drive. Não muito longe da Cidade do Cabo, esta estrada liga Hout Bay e Noordhoek numa sinuosa via 9 kms junto à beira-mar, mas com passagem no Chapman’s Point, que proporciona vistas de uma beleza inacreditável! Não é por acaso que já foi o cenário de anúncios de automóveis!