Xian, Pingyao e Datong

Xian

Seguimos caminho para o interior da China, para conhecer o coração deste país, e chegamos a Xian.  

Capital imperial durante muitas dinastias, e depois, também, primeira capital da China unificada, esta enorme cidade chegou a ser, no século IX a maior e mais rica cidade do mundo, comparada a Roma quando estava no seu auge. Porquê? Simples! Era em Xian, ou melhor, Chang’An, como se chamava então, que começava a Rota da Seda, a maior rota comercial que, durante séculos, ligou o oriente e o ocidente.

Não será, por isso, de estranhar que esta se tornou numa cidade rica e muito relevante e embora hoje não tenha a mesma importância, continua a fazer parte dos pontos de interesse histórico e visita obrigatória para quem quer mergulhar na grande China antiga.

Pontos turísticos à parte, entre outras atividades, Xian é hoje conhecida pelo rock e música underground chinesa, bem como por ter um importante polo cinematográfico. Mas, claro, é pela história que a maior parte dos visitantes chega a Xian e percebe-se porquê.

É aqui que se encontra o magnífico Exército de Guerreiros de Terracota – um enorme complexo, datado do século III a. C., com milhares de guerreiros em tamanho real feitos em barro cozido. Além dos soldados, há também cavalos, carruagens, armas e outros objetos, num total superior a 8 mil impressionantes figuras! E todas diferentes, com feições únicas, olhares e posturas diversas, mas com uma expressão de orgulho e determinação em levar avante a sua missão: a de proteger o seu imperador para toda a eternidade.

Sim, porque esta insólita formação ou escultura, descoberta por acaso em 1974 por agricultores que escavavam poços, guarda e protege o túmulo do primeiro imperador da China, o imperador Qin Shi Huangdi que, entre muitos outros feitos, foi o responsável pela construção da grande muralha da China. Consegue imaginar? É daquelas coisas que só mesmo visto. Se tiver oportunidade, não perca!

Em Xian valerá também a pena visitar os templos antigos, em especial, o Pagode do Grande Ganso Selvagem. Com sete andares e mais de 64 metros de altura, este templo budista permite-lhe subir à sua torre para desfrutar de uma belíssima vista sobre a cidade.

Por sua vez, o Bairro Muçulmano, com as suas ruas e travessas encantadoras, é outro ponto de interesse em Xian e, uma vez aqui, poderá visitar a Grande Mesquita, localizada num grande parque cheio de pátios e jardins. Se gosta de compras, não perca uma visita ao Mercado Islâmico, onde é possível ver e comprar falsificações de todos os géneros e feitios. É de perder a cabeça!  

Por perto pode, ainda, visitar as Torre do Tambor e Torre do Sino que, em tempos em que ainda não havia relógios por todo o lado, assinalavam, com os seus toques, o começo e o fim do dia. O sino anunciava que o dia estava a nascer, enquanto o tambor, tocado ao entardecer, que o dia terminava.

As muralhas de Xian são outro local a visitar. Estas fazem um cerco de 14 quilómetros ao centro da cidade, protegendo-a, de facto, de tudo. Ou pelo menos, pelo seu aspeto forte e robusto, assim parece.

Pingyao

3, 2, 1... Bem-vindo ao passado! Sim, é isso mesmo. Se chegou a Pingyao e atravessou a grande muralha, chegou ao centro histórico mais bem conservado na China. Aqui é possível ver e sentir como era a China de há muitos anos, de há 4.000 mil anos, mais precisamente.

Esta pequena cidade foi, em tempos, durante a dinastia de Ming, uma cidade comercial importante. De tal forma que o primeiro banco da China abriu aqui, assim como foi aqui que nasceu o primeiro sistema de cheques. Por estes motivos, muitos dos museus que aqui se encontram estão relacionados com os negócios e trocas comerciais de então. Visitas bastante temáticas, é certo, mas muito interessantes.

A cidade foi, depois, perdendo o seu dinamismo económico e adormeceu durante anos. E nesse sono profundo tudo ficou como estava: casas, ruas, edifícios, templos. Só as pessoas foram continuando a viver, mas a um ritmo que acabou por preservar a cidade tornando-se numa cidade-museu a céu aberto.  

Assim, dentro das muralhas, a cidade está como sempre foi: ruas de pedra escura, casas de madeira adornadas, telhas de pedra, lanternas vermelhas, pátios, muitas lojinhas com artesanato e utilidades, comida de rua e, claro, templos.

Mas, mais do que visitar alguns locais em concreto, o passeio a pé – neste centro histórico onde não há trânsito – é, por si só, uma experiência e um encanto, pois permite sentir o ritmo da vida daquele lugar especial. Se estiver por ali, não deixe de visitar. Vai adorar!

Datong

Da cidade-museu que é Pingyao, passa-se para o seu oposto: Datong. Uma cidade que representa a China de hoje, com contrastes sociais, ritmo acelerado e que vive no dilema de preservar a história ou assumir o desenvolvimento. A sua zona urbana não é propriamente um destino turístico, sendo a principal atração a imponente muralha em redor da cidade velha, totalmente reconstruída, que se tornou numa obra megalómana com o propósito de mostrar a importância de Datong no passado.

Mas – e porque há sempre um mas – é próximo de Datong que se encontra algo verdadeiramente espantoso: as Grutas de Yungang que são templos budistas esculpidos na montanha, e onde se encontram mais de 50 mil estátuas do Buda, desde uma do Buda sentado com mais de 17 metros de altura, a outras com apenas alguns centímetros. Uma obra que é, simultaneamente, um mistério e uma maravilha!

Este é, certamente, um dos locais mais espantosos à face da terra e uma obra que requereu uma mestria e coragem singulares para a construir. Vale a pena referir que, apesar do estado de conservação já acusar algum desgaste e erosão, está em ótimas condições, sobretudo tendo em conta que tudo o que aí existe foi feito à mão e há mais de 1.500 anos!

Os milhares de obras foram, portanto, esculpidas na pedra original dentro das grutas, todas escavadas à mão na rocha calcária (num processo de escavação de cima para baixo), ao qual se acrescentou uma impressionante decoração das paredes. Um local magnífico que, se estiver por aqueles lados, não deve mesmo perder!

Igualmente espantoso é, também, o Mosteiro Suspenso, que é uma visão fantástica e impossível! Como pode existir um edifício cravado na montanha e suspenso? E como foi possível fazer tal construção? A verdade é que, não só foi possível, como chegou aos nossos dias para nos mostrar que a capacidade humana é ilimitada. No interior – onde existem 40 salões que comunicam entre si! – existem também diversas estátuas taoistas, budistas e confucionistas, que convivem em harmonia. Um exemplo!