Pequim

Chegados aqui é preciso fazer um esclarecimento: quando, sobre Xangai, se disse que a sua noção de escala ia mudar por tudo ser mais e maior, isso só não acontecerá se já tiver ido a Pequim. E mesmo que já tenha estado em ambas as cidades, ao voltar a Pequim achará que está ainda maior, melhor e mais surpreendente.

Esclarecimento feito, uma comparação: se Nova Iorque é a cidade que nunca dorme, Pequim é a cidade que nunca para e, por isso, mesmo quem ali vive, dificilmente acompanha tudo o que se passa. É gigante, enorme, imensa, descomunal e, por tudo isto, fascinante!

Em Pequim pode estar uma semana, um mês ou um ano e ter ainda muitas coisas para ver, fazer, visitar e descobrir. Mas porque tudo nesta vida tem um fim, há que ser prático e pragmático. E como tal deixamos-lhe aqui um cheirinho ao espírito da cidade e algumas sugestões de visitas; aquelas que se não lá for, alguém lhe vai dizer que deveria meeeesmo ter ido...

Numa cidade tão inacreditavelmente enorme há de tudo e, por isso, se tem um interesse específico, vale a pena investigar o que ali pode descobrir sobre esse assunto. Se prefere ver um pouco de tudo e deixar-se levar pela atmosfera do local, então venha daí!

Com cerca de três mil anos de história Pequim nasceu para ser uma megacidade. A sua localização estratégica – rodeada em três frentes por montanhas – era ideal para guardar e proteger o imperador e imperadores das várias dinastias e, por isso, foi, durante muito tempo, a capital imperial.

Com essa importante missão, Pequim nunca perdeu relevância, tendo, aliás, sempre atraído e reunido a elite política, religiosa, económica e financeira e cultural, o que acontece ainda hoje. Isto explica porque é conhecida como ‘a capital bilionária’.  

Toda esta riqueza reflete-se, depois, na arquitetura dos edifícios e monumentos; nos materiais, na dimensão das coisas. A começar, claro, pela Cidade Proibida.

A Cidade Proibida é um espaço único! Construída entre 1406 e 1420 para ser a residência do imperador – e foi isso mesmo durante mais de 500 anos e de 24 imperadores -, recebeu este nome por ter um acesso muito reservado. Além da família real, só os empregados podiam entrar neste enorme complexo e, aqueles que ousavam aventurar-se tinham um fim definitivo e doloroso.

Rodeada por um fosso e um grande muro, alto e largo, que a delimita, e que desincentivava a entrada, no interior encontram-se 980 edifícios, que se estendem por mais de 700 mil metros quadros. É uma cidade dentro da cidade com tudo o que se possa imaginar!  

Fazer uma visita com alguma profundidade implica ter algum tempo disponível, mas se tem o tempo contado, pode selecionar os pontos principais e ficar apenas com uma ideia da dimensão e importância daquele espaço.  

Há muito para ver, desde o rio das Águas Douradas com as suas cinco pontes de mármore; o Salão da Harmonia Suprema – um salão gigante onde era feita a coroação do imperador e cujo trono ainda lá está; o Salão da Paz Imperial, os jardins; as diversas portas - a Porta do Poder Divino; a Porta da Pureza Celestial que dá acesso à corte interior, um espaço ainda mais reservado da Cidade Proibida - entre muitos outros cantos e recantos surpreendentes. A menos que tenha visto ‘O Último Imperador’ e, nesse caso, vai sentir-se em casa!

Fora da Cidade Proibida, mas ali por perto, encontra dois pontos importantes: a Praça de Tian’anmen e o Parque Jingshan.

A primeira, apesar de ser conhecida assim, chama-se, na verdade, Praça da Paz Celestial, o que não deixa de ser irónico tendo em conta o pedaço de história de horror que ali se passou, em 1989. Nessa ocasião, muitos estudantes e civis manifestavam-se contra a severidade e repressão do governo e, após dias de tensão crescente, em que os estudantes não arredaram pé, foi dada ordem para os militares avançarem para dissolver o protesto. Nos confrontos muitos foram os civis mortos e feridos. Apesar disto, mas também por isto, a praça impressiona pela dimensão e pela austeridade do espaço, sendo uma das maiores praças que há no mundo!  

Para respirar fundo e aligeirar o espírito, ali por perto encontra um dos mais extraordinários jardins de Pequim - é, de resto, um jardim imperial - o Parque Jingshan.

Localizado numa colina, a Colina de Carvão – construída artificialmente com a terra que se retirou ao construir o enorme fosso que rodeia a Cidade Proibida - este parque proporciona vistas belíssimas sobre a cidade. Infelizmente, devido à inclinação do terreno, não é o jardim onde passear é, como dizem os anglo-saxónicos, ‘a walk in the park’, mas o facto de se encontrarem diversos pavilhões tradicionais no meio da vegetação, fazem dele um local privilegiado que merece o esforço, a visita e a contemplação.

Em Pequim há ainda muitos outros locais, antigos e modernos – Palácio de Verão, Templo de Yonghe, Templo do Céu, Vila Olímpica, bairro artístico, e muito mais - que justificam a visita, mas uma passagem pelos hutongs – casas com pátios interiores onde habitam vários membros de uma mesma família, que se sucedem de um lado e outro, ao longo das muitas ruas e ruelas dos bairros tradicionais, mostram a face mais familiar deste povo com costumes e tradições tão diferentes – e muitas vezes surpreendentes - das nossas.

Se, para si, a noite também é dada a descobertas e passeios, não perca uma passagem pelos mercados noturnos onde encontra sempre algo inesperado ou original, da comida, ao artesanato, das roupas, às falsificações.

Para jantar, está no sítio certo para saborear um Pato à Pequim – é delicioso! - mas a criatividade gastronómica dos chineses é imensa e entre hotpots, noodles, dumplings, crepes e tantas coisas que nem se sabe bem o que são, mas que são deliciosas, há muito por onde escolher.

Depois, poderá experimentar uma cerveja chinesa na zona dos bares, Sanlitun, e se ainda tiver forças, avance para um pezinho de dança. Discotecas, por ali, também não faltam!

Com um trânsito caótico, muita poluição, uma língua impercetível, Pequim é, também, a cidade das ruas estreitinhas, das casas de chá, dos mil e um mercados, das incontáveis lojas, dos jardins onde os mais velhos fazem Tai Chi ou jogam jogos tradicionais, da street food, da Ópera de Pequim, da medicina tradicional, das artes marciais, dos shows acrobáticos, dos passeios de barco, dos rickshaws e das bicicletas, dos pandas-gigantes e de muitas outras coisas que fazem de cada momento nesta capital uma grande e emocionante aventura!